quarta-feira, 26 de julho de 2017

Fado Malhoa

Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado.
Que foi bem grande e nos dói
Já ser do passado.

Pintou uma tela
com arte e com vida
a trova mais bela
da terra mais querida.

Subiu a um quarto em que viu
À luz de petróleo.
E fez o mais português
Dos quadros a óleo.

Um Zé de samarra
Coma amante a seu lado
Com os dedos agarra
 percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.

Dali, vos digo que ouvi
A voz que se esmera.
Dançando o faia banal
Cantando a Severa.

Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa,
Aquilo é fadista,
Aquilo é de artista
Aquilo é Malhoa.


sábado, 7 de janeiro de 2017

Cantigas Populares


Não canto por bem cantar
Nem por bem cantar o digo
É só para aliviar
Penas que eu trago comigo

Se o cantar aliviasse,
Penas ao meu coração,
 tanto que eu tenho cantado;
as penas ainda mais são.

Cantas bem não cantas mal,
Eu também canto assim;
O mestre que te ensinou,
 também me ensinou a mim.

Canto bem e canto mal
Canto de toda a maneira;
Tenho ouvido dizer,
Que o cantar não vai à feira.

Eu sempre gostei de ouvir
Quem no mundo canta bem;
Não tenho com que lhe pague
Pago-lhe a cantar também.

As cantigas que tu cantas
Mete-as num assobio;
Não és capaz de cantar
Comigo ao desafio.

Cantar bem cantava eu
Lá na minha mocidade;
 agora quero não posso
tudo requer a idade.

Tudo requer a idade
Tudo requer o que é seu;
O peixe requer a água
Fora da água morreu.